terça-feira, maio 19, 2009
Amor platónico
Esta crónica é dedicada a todos que amaram e não foram amados
E a todos os que amamos mas não nos souberam amar…
Amor platónico
Podes não acreditar ou confiar em mim, mas consigo sentir o que te vai na alma, apesar de quase não te conhecer e de no fundo pela envolvência e pelos detalhes, te conhecer interiormente como se fossemos gémeos de uma impressão digital quase perfeita.
Isto é escrito para ti, que tal como eu, amaste mas nunca não te souberam amar com todo esse sentido e profundidade que essa palavra tem para nós, essa palavra que por nós nunca foi violada ou banalizada.
Consigo sentir, a tua inquietude e o martelar de todas as tuas noites de sono perdidas, a pensar e a divagar, a viver à custa da adrenalina do cansaço e das melodias das músicas que roubamos para o nosso coração e ouvimos indefinidamente como se fossem a banda sonora da nossa vida.
Tatuas-te, como eu, no torpor que o cansaço nos provoca e que nos permite continuar múmias, como se nos tivéssemos tornado insensíveis ou se fossemos drogados, mas estamos tão completamente dependentes desse cansaço e desse adormecer, do qual, quando nos consegue atingir, não queremos acordar…
Sinto a tua presença no meio dessa imensidão destes e daqueles dias tão contínuos e longos, praticamente sem fim, com intervalos de poucas horas e denoto que vives encerrado na descrença de um dia voltar a amar com aqueles olhos harmoniosos das noites de lua crescente, que tiveste outrora. Estas esmagado preso com cordas de aço invisíveis, na descrença que te amem profundamente e incondicionalmente como tu amaste. Achas que estás partido, defeituoso para sempre e que contigo existem inúmeros detalhes que não tem concerto, que és como um sapato fabricado sozinho sem o seu par e que ficará eternamente perdido debaixo de um baú de memórias, ou que és como um cão tresmalhado e abandonado, eternamente sem dono.
Vejo-te, agora nesta manha em que eu ainda não adormeci de cansaço, de cabelo desalinhado, deitado sobre o teu edredão de angústia, sinto o odor a sal que abafas contra o calor do teu corpo e o ritmo agressivo com que sacodes os lençóis, adormecido, para te tapares, como se fossem as feridas expostas que tens por dentro e finges, sempre… sempre não notar.
Carrego esse peso tal como tu… e comparto a tua luta diária e a realidade de termos connosco sentimentos auto-destrutivos e esses anticorpos que criamos contra nós próprios porque aquela Musa inspiradora ou aquele príncipe não nos olhou de forma diferente, como se tivéssemos um defeito grave ou uma fealdade tremenda, mesmo quando nos superamos a nos próprios tantas e inúmeras vezes e mesmo, quando cometemos aqueles actos de coragem e de loucura extrema de darmos tudo e de irmos quase dar à volta ao mundo para roubar todas as orquídeas e amores-perfeitos para lhes oferecer. Apenas conseguimos ser tratados como presenças, bem-vindas, mas não da mesma maneira que só a estrela do norte é tratada pelas pessoas que perdem o seu rumo.
Apenas gostava de te pedir para teres esperança por nós e por todos aqueles que não foram amados como nós, que acredites que a balada da nossa existência, que para nós é, tantas vezes inútil e desmerecedora, esta a ser inventada na pauta de um ilustre trovador.
Esta nossa vida que sentimos tantas vezes inútil é coberta de vazios que tentamos colmatar, porque só nós sentimos, como ninguém, o quanto faz sentido, o quanto é colorido e saboroso a partilha das experiências, conhecimentos e a rotina do dia-a-dia com alguém.
Nós e pessoas como nós, que põem a palavra amar sempre em primeiríssimo lugar, seja com a família e com os amigos mas que também a queríamos por em primeiro lugar com essa alma gémea que desejámos com uma fome de amor e com uma sede como se estivéssemos sido desertados no país mais pobre de África.
Nós que conduzimos a cantar aquelas músicas que nós dão vertigens e nós iluminam na escuridão, de olhos brilhantes, mesmo quando sentimos não ser de parte alguma nem morar na vida e na alma de ninguém, perdidos e sós, estranhos, loucos e aves raras.
Quero por fim, dizer-te e pedir-te, que te deixes levar por esse sentimento que pode estar a nascer, esse que evitamos, que nos cria pavor e borboletas nocturnas e esvoaçantes dentro de nós. Deixa fluir esse sentimento no qual colocamos tantas reticências, esse no qual confundimos tantos conceitos, sinónimos e antónimos, real com irreal, dionisíaco e celestial, fruto do nosso medo de passar pelo mesmo amor platónico, do medo de passar por mais alguém sem aquele significado do que outrora sentimos e da inexperiência que para nós é sentir isto indescritível e que nos aterroriza porque pode não dar certo, porque temos receio do que o outro pensa sobre nós e porque tem tantos contornos irreais e imcompreensiveis.
Deixa que a ponte se estenda e que se construa um caminho, quem sabe se não irás ou iremos caminhar sob arco-íris até as estrelas como duas crianças que partilham a merenda, sonham acordadas e dão sempre as mãos? Quem sabe se não vamos viajar até um planeta ate agora desconhecido mas no qual a palavra amar é recheada com gomas, chocolate, geleia de morango e regada com aquela paz e intensidade que só sentem duas pessoas que nunca mais se querem separar?
Mesmo que não seja num dia nosso em comum, continua acreditar, permite-te a ti próprio acreditar! Não te deixes cair na amargura e no vazio da descrença... Tenta dar-te e dar-me a esperança e deixa-te acreditar, que esse amor um dia nos vai iluminar, que nos vai pregar uma rasteira e que lhe vamos dar a mesma eloquência, poesia e intensidade que no passado oferecemos àqueles nossos amores platónicos tao dolorosos e inantigíveis.
No fim, quem nos souber amar com aquele amor tão doce, tão aveludado, tão ponto caramelo perfeito e real é quem mais merecerá que nos entreguemos inteiros de corpo e alma e não apenas estes fragmentos de alma e coração que por agora possuímos.
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