domingo, agosto 30, 2009

Casa






Tentei fugir da mancha mais escura
que existe no teu corpo, e desisti.
Era pior que a morte o que antevi:
era a dor de ficar sem sepultura.

Bebi entre os teus flancos a loucura
de não poder viver longe de ti:
és a sombra da casa onde nasci,
és a noite que à noite me procura.

Só por dentro de ti há corredores
e em quartos interiores o cheiro a fruta
que veste de frescura a escuridão. . .

Só por dentro de ti rebentam flores.
Só por dentro de ti a noite escuta
o que sem voz me sai do coração.

David Mourão Ferreira
Infinito Pessoal
(1959-1962)

Um comentário:

Mariposa disse...

Olá! Estava a editar uns posts antigos do meu blogue quando encontrei um comentário teu, de há quase um ano. Shame on me!
Gostei bastante do teu blogue, mas já vi que também o "abandonaste" um bocado... Vê se ganhas inspiração para voltares a escrever umas coisitas! ;) Bjos.